quinta-feira, 30 de junho de 2011

As Vitimas Algozes

          O livro As Vítimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, foi escrito na segunda metade do século XIX, em 1869, 19 anos antes da Abolição da Escravidão. O livro pertence ao Romantismo, que foi uma escola literária de grande importância para a história de nossa literatura. A obra não agradou o público oitocentista e recebeu várias críticas publicadas na imprensa, sendo considerado por Ubiratan Machado como “o livro mais atacado pela crítica durante o período romântico”.
       As Vítimas Algozes é, ao seu modo, um romance abolicionista. Não daquele abolicionismo que encontramos nas obras dos poetas acima relacionados. Como explica Macedo, na nota “Aos Nossos Leitores”, não lhe interessou, nas “educativas” e “moralizantes” histórias que entregava aos consumidores de sua vasta obra, pintar “o quadro do mal que o senhor, ainda sem querer, faz ao escravo”, mas, sim, o “quadro do mal que o escravo faz de assento propósito ou às vezes irrefletidamente ao senhor”.
          Dito de maneira mais direta, o romance antiescravista de Macedo quer convencer os seus leitores de que é preciso libertar os escravos não por razões humanitárias, mas porque os cativos, sempre imiscuídos nas casas-grandes e sobrados, introduzem a corrupção física e moral no seio das famílias brancas. A obra é um retrato perfeito do Brasil pós-abolicionista. De acordo com o contexto histórico da época, Joaquim Manuel alertava ao leitor burguês de que o melhor a fazer era gradualmente abolir a escravidão.
            O objetivo político das três histórias que compõem o livro está claro desde a nota inicial aos leitores. Professando narrar apenas “histórias verdadeiras”, queria firmar, na “consciência” do público, “as verdades que vamos dizer”. Obra de convencimento, portanto, As vítimas-algozes era tentativa de obrigar os leitores a “encarar de face, a medir, a sondar em toda sua profundeza um mal enorme que afeia, infecciona, avilta, deturpa e corrói a nossa sociedade, e a que nossa sociedade ainda se apega semelhante a desgraçada mulher que, tomando o hábito da prostituição, a ela se abandona com indecente desvario”.

“A asa negra da escravidão roçara por sobre a casa e a família de Paulo Borges, e espalhara nelas a desgraça, as ruínas e mortes violentas dos senhores. Pai-Raiol e Esméria, algozes pela escravidão, esses dois escravos assassinos não podem mais assassinar... A escravidão, porém, continua a existir no Brasil. E a escravidão, a mãe das vítimas-algozes, é prolífica.” (Trecho retirado do final do conto Pai-Raiol.)



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